"Sou uma mulher madura, que às vezes brinca de balanço. Sou uma criança insegura, que às vezes anda de salto alto."
Martha Medeiros

terça-feira, 27 de julho de 2010

banalização da morte

Esse fim de semana estive no Rio, cidade que amo de paixão e que só não moro lá por questões meramente profissionais.

Fui ao Barra Shopping buscar meu kit da corrida e teve um acidente bem na entrada do shopping que acabou provocando a morte de uma pessoa. Fazia pouco tempo que tinha acontecido, o nosso CSI ainda estava por lá, os bombeiros e todos os envolvidos quando acontece esse tipo de coisa.

Mas o que me assustou foi que todos que passavam, simplesmente ignoravam, nem tinham aquela curiosidade mórbida, porém inevitável, que todos nós seres humanos temos de olhar e de querer saber o que aconteceu.

Fiquei um tempão parada, não olhando o corpo que ainda estava por lá, porque quando vi, virei a cara, não consigo enfrentar esse tipo de situação, mas olhando as pessoas passarem e nem se perguntarem o que aconteceu, era como se não tivesse nada ali, como se fosse uma lata vazia de refrigerante jogada na rua por algum mal educado.

Eu fiquei e ainda estou inconformada com essa situação, sempre que lembro, peço por aquela pessoa que tava lá com o corpo coberto e sem existência que encontre seu caminho. É só isso que posso fazer por enquanto.

Aí fico pensando em tudo que ultimamente vejo acontecendo no Rio, parece que as pessoas não se importam mais, que é normal ver a morte de perto, e talvez por isso a gente veja todo dia tanto coisa ruim acontecendo, o que sei é que nunca vou conseguir ignorar estas coisas.

Ai, não quero mais pensar sobre isso. Fico angustiada.

Um comentário:

  1. Zane, não quero te deixar mais angustiada, mas eu tinha que comentar esse texto! A situação descrita mostra bem a indiferença que toma conta da nossa sociedade. A indiferença para com tudo aquilo que está além do limite das nossas preocupações cotidianas. Reconhecer os problemas dos outros e reservar um pouco de tempo, de ouvido, de palavras, de sorriso, de oração (o que você fez por aquela vítima de acidente) significa perder tempo para muitos. Além dessa “falta de tempo”, outra justificativa bastante comum é o fato de já estarmos “calejados” de sofrimento, miséria, corrupção, desastres naturais, tragédias, violência e tantas atrocidades com as quais convivemos diariamente, tanto que quase tropeçamos em um mendigo que está deitado na porta do prédio passando frio e fome e não oferecemos sequer um bom dia ou um olhar de piedade (café com pão nem passa por nossa mente). Mas, essa frieza no trato para com aquilo que nos é estranho demonstra também nosso medo, nosso receio em deixar a redoma que nos protege e sair para enfrentar desafios mais ousados. Não estou dizendo que nosso povo não seja solidário ou que não se preocupe com questões sociais, mas gostaria de colocar que no meu ponto de vista a indiferença da sociedade deve ser quebrada com atitudes no cotidiano e não quando a tragédia está feita. Precisamos nos acostumar a sentir pelo outro, a nos colocar no lugar do outro. De fato, a palavra é mesmo banalização! Banalização da morte, das relações, dos sentimentos, do respeito! Esse texto me fez lembrar um e-mail (que nunca saberei se é verídico ou não, pois se tratava daquelas histórias de moral que circulam pela net) que retrata bem a banalização da morte. Um médico, exausto após o plantão corria para sua casa para receber o filho que estava chegando de viagem. Com tanta pressa, ele se negou a parar e prestar socorro quando presenciou um acidente no caminho para casa. Ao chegar, foi informada que o filho dele havia morrido em um acidente por falta de socorro apropriado ... justamente aquele acidente que ele não parou para ajudar. E nós?? Paramos sempre? Uma oração, um sorriso ou um abraço podem ser nosso socorro para muita gente.

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