"Sou uma mulher madura, que às vezes brinca de balanço. Sou uma criança insegura, que às vezes anda de salto alto."
Martha Medeiros

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Dachau - não existem palavras suficientes pra conseguir explicar todos os sentimentos que surgem num lugar como este

Estou chocada com o tamanho do lugar, mas nem de longe chega perto do tamanho da crueldade. E, sem contar que área aberta para visitantes é muito pequena, acho que uns 15% do total.





Hoje fiz diferente, e optei por ir com um guia, tava com preguiça pra pensar no metrô que iria pegar, preguiça de ficar atenta pra não errar onde descer por causa desses nomes gigantes por aqui, preguiça ficar andando de lado ao outro, preguiça de ouvir os audioguides, preguiça de tudo.

Mas o nome dessa preguiça toda é apenas cansaço de alguns dias de muita informação e muitas caminhadas.

No começo até fui preparada pra me "perder" se as pessoas fossem aqueles americanos que só estão interessados em tirar fotos engraçadinhas e paquerar pela Europa.

Quebrei a cara, logo de cara!

O grupo era um monte de canadenses, indianos, australianos e ingleses, cada um mais gentil e educado que o outro. E só alguns poucos americanos. Não tenho nada, absolutamente nada contra americanos, não faço parte da turma que acho os americanos um porre, simplesmente, não ligo.

Depois a surpresa ficou melhor ainda, a guia parecia meio maluquete, mas foi só julgamento pela sua aparência, pois ela é super informada e estudiosa sobre II Guerra, particularmente, sobre campos de concentração de trabalho, que é o caso de Dachau, pelo menos inicialmente.

E, sem contar que ela dominava as palavras e fez todos chorarmos várias e várias vezes durante o dia inteiro.

Sim, fiquei o dia inteiro. Tinha ouvido falar de pessoas que vão até lá por 2 ou 3 horas e ponto final.

Na entrada o clássico portão com a frase "Arbeit Macht Frei". Aí fotos e mais fotos de como era a propaganda nazista, que a guia foi explicando, e a história renascendo na minha memória das aulas no colégio. Não bastava tudo o que faziam, os caras ainda registravam tudo em fotos e filmes, e sempre com imagens de cima pra baixo.


















Não lembrava ou faltei a aula e não estudei pra prova. O que aprendi foi existiram campos de concentração de trabalho, que era muito útil para as indústrias que sobreviviam da guerra e para treinar militares da Gestapo, que é o caso de Dachau, um campo de trabalho para presos políticos.

Mas isso foi no início, depois se tornou também um campo de extermínio. Mas diferente de Auschwitz que era um campo exclusivamente de extermínio.

Só pra ilustrar a diferença, em Dachau morreram + de 200.000 pessoas e em Auschwitz eram quase 12.000 pessoas por dia. No começo dá pra ver como era limitado Dachau, mas depois explodiu na sua população.






Lá tem um bunker que servia para torturas alguns presos políticos, e tem todas as formas de torturas pra gente ver, ouvir, tocar e sentir a enevoa do lugar. É impressionante, sai quase vomitando, ainda bem que não tinha nada no estômago, porque a cara já tava inchada de tanto chorar, só faltava essa. Mas com exceção dos ingleses, o resto do grupo, assim como eu, não sabemos o que uma guerra no nosso país por anos e anos, podemos até ter nossas tragédias, mas nada se compara.


Os presos eram identificados por cores que formavam a famosa estrela que identificavam os judeus.


Aí ficou pior ainda, no outro campo que fui não entrei no crematório pois estava interditado, pra manutenção, aliáis, isso é muito comum por aqui, melhor tá sempre preparado pra não se frustar, e afinal, nada vai sair do lugar e sempre vamos ter motivos pra voltar.

Existiu um primeiro crematório que era apenas para os presos mortos serem cremados. Mas com o aumento do campo, aumento das mortes e início do holocausto, com o extermínio dos excluídos, a Alemanhã passou a ter campos de extermínio também, que antes estavam restritos aos países invadidos pelos alemães. E Dachau também se tornou um campo de extermínio.



E como tudo era tão planejado, Dachau limitou o recebimento de presos, para que fosse construído um novo e maior crematório, e quem construiu? É uma crueldade após a outra.

No novo crematório primeiro os presos passavam por uma sala de desinfecção, para que seus uniformes pudessem ser reaproveitados, pois a grande maioria era portadora de muitas doenças.


Depois iam pra uma sala de espera onde deviam retirar as roupas para entrarem na sala de "banho".


E, então, entravam na câmara de gás. Onde a morte era lenta e dolorida, e não ao mesmo tempo para todos.


É impossível descrever a frieza que sente ao entrar nesse lugar. É baixo, no máximo, uns 2 palmos acima da minha cabeça. Mas tudo que era pra ser usado pelo que não fossem arianos, eram dessa forma.

E, pior ainda, foi saber que os chuveiros de gás foram roubados, quando Dachau abriu para visitantes. Me pergunto pra que? Quem gostaria de aquilo em casa? Cada vez me encho de mais perguntas por aqui. Ficou só o buraco.

E, por fim, os crematórios, já mais altos, porque nessa sala iriam trabalhar os soldados da SS.


Na saída, depois dos vômitos, não consegui segurar, coloquei tudo pra fora, o monumento ao sobrevivente desconhecido. O que ele tá pensando? Pra onde olha? O que vê? Totalmente cheio de incertezas.

Eu tinha a intenção de ir nessa viagem até Auschwitz, mas eu não vou conseguir. É muito intenso tudo isso, é muito difícil ver tudo aquilo, é mulato difícil pensar sobre tudo isso. Acho que vou deixar pra uma próxima viagem.

Cheguei no hotel totalmente destruída emocionalmente fiquei horas mergulhada na banheira, depois tomei um ducha pra tentar tudo de mim e tentar me animar.

Mas foi impossível fazer qualquer coisa diferente do que simplesmente refletir, e não só pensar, foi um momento de reflexão de váriaas coisas na minha vida, e decidir mais outros montes.

Outra noite sem dormir.

E, pra terminar, qualquer um que puder precisar vir num lugar desses pra sentir o tamanho que somos e que nem nenhum imbecil pode pensar diferente.


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2 comentários:

  1. Uma aula e tanto, heim amiga!!!
    De arrepiar... passado... melhor acreditar que os homens de hoje aprenderam essa lição! Bjs

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  2. Quel, assim como eu, vc não ia agüentar, muito intenso.
    Um beijo e sábado tô por ai.

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